CientíficaMente - O que é Psicologia?
Eu acho que a psicologia é uma área de saber que vem do cotidiano, da filosofia, e que se dedica, com coragem e ousadia, a tentar entender o comportamento humano. A psicologia, de alguma maneira, tem como objetivo estudar o que acontece na relação entre o corpo biológico e uma sociedade constituída, entender a relação indivíduo e mundo social e construir teorias que possam dar conta de ajudar também. Pensando na parte mais prática, ajudar as pessoas com as suas questões, com os seus conflitos nessa relação.
CientíficaMente – Professor, você acha que as pessoas, em geral, sabem o que é a psicologia?
Eu acho que tem um estereótipo do que é o psicólogo, muito via mídia: o psicólogo clínico, aquele que atende problemas, que faz diagnóstico, com quem você vai conversar porque tem um problema. Essa é uma das áreas da psicologia que ainda existe, não que tenha deixado de existir, mas acho que como todas as outras profissões, há uma fragmentação. Os limites já não estão mais claros entre o que é uma atribuição do psicólogo, atribuição do administrador, do médico, do cientista social, e de todas as outras profissões. Isso é interessante em um nível, porque você tem aí mais possibilidades de trabalho. Não é exclusivo da psicologia estudar o ser humano, outras áreas também se dedicam a atuar. Por outro lado, também é perigoso, porque você tem a entrada de áreas, pessoas, que não têm o rigor necessário. Então essa fragmentação é positiva porque faz crescer, mas também é negativa porque entram mais coisas que não são necessariamente boas. E no senso comum as pessoas não conseguem definir o que é o quê.
Eu acho que a psicologia é uma área de saber que vem do cotidiano, da filosofia, e que se dedica, com coragem e ousadia, a tentar entender o comportamento humano. A psicologia, de alguma maneira, tem como objetivo estudar o que acontece na relação entre o corpo biológico e uma sociedade constituída, entender a relação indivíduo e mundo social e construir teorias que possam dar conta de ajudar também. Pensando na parte mais prática, ajudar as pessoas com as suas questões, com os seus conflitos nessa relação.
CientíficaMente – Professor, você acha que as pessoas, em geral, sabem o que é a psicologia?
Eu acho que tem um estereótipo do que é o psicólogo, muito via mídia: o psicólogo clínico, aquele que atende problemas, que faz diagnóstico, com quem você vai conversar porque tem um problema. Essa é uma das áreas da psicologia que ainda existe, não que tenha deixado de existir, mas acho que como todas as outras profissões, há uma fragmentação. Os limites já não estão mais claros entre o que é uma atribuição do psicólogo, atribuição do administrador, do médico, do cientista social, e de todas as outras profissões. Isso é interessante em um nível, porque você tem aí mais possibilidades de trabalho. Não é exclusivo da psicologia estudar o ser humano, outras áreas também se dedicam a atuar. Por outro lado, também é perigoso, porque você tem a entrada de áreas, pessoas, que não têm o rigor necessário. Então essa fragmentação é positiva porque faz crescer, mas também é negativa porque entram mais coisas que não são necessariamente boas. E no senso comum as pessoas não conseguem definir o que é o quê.
CientíficaMente - E qual você acha que é a principal causa dessa visão senso comum da psicologia?
De alguma maneira, quem não tem acesso via escola, via educação a alguma área do saber, acaba tendo contato pela mídia impressa e televisiva. Há muitos profissionais que vão à mídia e falam em nome da área, alguns com propriedade, outros não. Alguns nem mesmo são da área e as pessoas os identificam como se fossem. Como exemplos temos aqueles programas de auditório cujos apresentadores não são psicólogos, no entanto as pessoas acham que são. Eles inclusive fazem interpretações ao vivo, que são duvidosas. Então as pessoas vão construindo uma representação social do que é o psicólogo a partir disso, daí acontecem muitas misturas. Eu acho que o que mais forma o senso comum é a mídia. Em muitas revistas há seções sobre comportamento em que supostos profissionais dão a sua opinião quando não teriam condição de fazê-lo.
CientíficaMente - Você vê alguma saída para isso?
Eu acho que a psicologia deveria - na verdade o Conselho Federal (CFP) há alguns anos tenta fazer isso - freqüentar mais a mídia só que com qualidade, com rigor, até de forma institucional, explicitando o que é a psicologia. Esse espaço está sendo conquistado aos poucos, por exemplo, o CFP teve, por algum tempo, um espaço no canal Futura. Contudo, eu fico pensando, quem é que tem acesso a um canal de TV paga? É restrito a pessoas que provavelmente já têm outra visão da psicologia. Acho que deveria haver um espaço para mostrar o que é a psicologia, explicitando aquilo que parece estar formando a opinião das pessoas. Não sei exatamente como, porque é uma tarefa difícil.
CientíficaMente - E com relação à carreira do psicólogo, hoje em dia há mais possibilidades além da clínica?
A psicologia tem as áreas mais tradicionais, instituídas, em que algumas já não mais tão seguras. Por exemplo, o consultório antigamente era a opção óbvia – você se formava, abria seu consultório e pronto. Hoje em dia você até pode abrir seu consultório, tentar uma estabilidade, porém há mais pessoas fazendo isso e não está tão simples assim você manter essa atividade. Você pode trabalhar em escolas, que abriram mais espaço para nós, e as empresas, que sempre tiveram vagas e provavelmente sempre terão. Essas áreas já são instituídas, mas hoje se abriram mais possibilidades. Áreas em que nem se pensava que o psicólogo poderia contribuir, como na política, na gestão, em instituições, em comunidades, no trânsito, com engenheiros, enfim tudo que envolva impactos no comportamento humano cabe também ao psicólogo. O problema é que, por exemplo, pensando em alguém que está em formação, você acaba tendo contato com as áreas mais tradicionais, e tem outras áreas que você vai constituindo seu espaço. Isso é algo bom, porque agora você pode chegar e dizer que tem um conhecimento, que pode contribuir. Você pode construir um espaço, apesar de que leva um tempo para isso ocorrer. O risco é as pessoas não te reconhecerem como psicólogo, dão outro nome, fica como outra coisa. Estamos nessa abertura de novos campos de trabalho, mas que ainda não estão consolidados como tal. Alguns já estão, como a psicologia jurídica, a psicologia do esporte, a psicologia hospitalar, que há dez, quinze anos ninguém saberia dizer o que eram. Também podemos aproveitar áreas que estão consolidadas em outros países. Hoje há mais abertura, por outro lado isso deixa as pessoas sem referências, mais confusas com relação ao que o psicólogo é e faz.
CientíficaMente - E o que você acha que diferencia o psicólogo dos demais profissionais que lidam com humanos?
Eu acho que é o olhar. Nós desenvolvemos um olhar que é muito específico. O curso - teoricamente, não que todos tenham isso - te dá uma chave de leitura da realidade muito particular (chamo de realidade as pessoas, as instituições, as organizações, dimensões da vida). Isso nos ajuda a entender para além da superfície. Acho que a maioria das profissões não vai para além da superfície, até porque não se propõem a isso. As nossas grandes ferramentas são o diagnóstico, em um sentido mais amplo, pensado em termos de leituras, interpretação, análise da realidade, e a forma como se acessa essa realidade. A entrevista, por exemplo, é um instrumento fantástico que nós temos, e nós extraímos coisas dessa entrevista que outros profissionais não extraem. É uma leitura muito particular da realidade, que consegue entender um pouco as pessoas, as relações das pessoas, e ajudar no que estabelece o cotidiano de todas as outras profissões.
CientíficaMente - Você acha que as faculdades, os cursos de psicologia em geral, conseguem mostrar esse campo aberto de atuação do psicólogo?
Olha, mais ou menos. O campo tradicional é apresentado. Não dá para dizer genericamente, acho que algumas faculdades têm isso, essa preocupação, outras não têm. Algumas fazem isso de um modo mais integrado, dentro do currículo, outras não, fazem palestras, por exemplo. As faculdades estão preocupadas, mas varia o nível de preocupação e ação para dar conta disso. Até porque tem muita coisa nova, e muitas áreas ainda não estão consolidadas, umas são legais, outras não. Às vezes você traz para dentro do curso de psicologia alguém que mistura psicologia e coisas esotéricas, o que é um problema. A formação em psicologia é algo complicado. Você fecha a grade curricular e aí surge uma nova área.
CientíficaMente - E o que você acha que os alunos podem fazer para entrar mais em contato com as possibilidades de carreira?
Eu acho que tem que conversar muito com os professores, e também com os colegas. Às vezes o colega que senta a seu lado está fazendo um estágio muito legal, em algo que você nem imaginava. Principalmente conversar com os professores, porque às vezes ele dá uma aula que tem que dar, mas a experiência dele é outra. Uma coisa que não se faz, eu como aluno não fazia e não vejo meus alunos fazendo, é conhecer um pouco o professor. Ver o que ele faz, o que ele pesquisa, o que ele estuda, onde ele trabalhou, o que já fez... Saber a história de vida dele é interessante, até porque ele pode te dar dicas de por onde ir, como caminhar. É importante conversar com vários, não com um só. Hoje em dia temos a Internet, mas nem sempre você sabe se a informação é válida. É legal ter alguém como uma referência, que te ajude nesse caminho. Eu ainda acho que a graduação é um espaço de exploração e de experimentação. Esse é o objetivo. Quanto mais se explorar e se utilizar do material físico e humano da universidade, melhor. Não que isso vá garantir que quando você se forme terá uma inserção perfeita no mercado de trabalho. No entanto, quanto mais informação, mais fácil você consegue. Claro que há também outros fatores, como características pessoais, contingências do momento, da área que você escolheu. Tem áreas que a inserção é fácil, e em outras você terá que inventar e batalhar para abrir seu espaço.
De alguma maneira, quem não tem acesso via escola, via educação a alguma área do saber, acaba tendo contato pela mídia impressa e televisiva. Há muitos profissionais que vão à mídia e falam em nome da área, alguns com propriedade, outros não. Alguns nem mesmo são da área e as pessoas os identificam como se fossem. Como exemplos temos aqueles programas de auditório cujos apresentadores não são psicólogos, no entanto as pessoas acham que são. Eles inclusive fazem interpretações ao vivo, que são duvidosas. Então as pessoas vão construindo uma representação social do que é o psicólogo a partir disso, daí acontecem muitas misturas. Eu acho que o que mais forma o senso comum é a mídia. Em muitas revistas há seções sobre comportamento em que supostos profissionais dão a sua opinião quando não teriam condição de fazê-lo.
CientíficaMente - Você vê alguma saída para isso?
Eu acho que a psicologia deveria - na verdade o Conselho Federal (CFP) há alguns anos tenta fazer isso - freqüentar mais a mídia só que com qualidade, com rigor, até de forma institucional, explicitando o que é a psicologia. Esse espaço está sendo conquistado aos poucos, por exemplo, o CFP teve, por algum tempo, um espaço no canal Futura. Contudo, eu fico pensando, quem é que tem acesso a um canal de TV paga? É restrito a pessoas que provavelmente já têm outra visão da psicologia. Acho que deveria haver um espaço para mostrar o que é a psicologia, explicitando aquilo que parece estar formando a opinião das pessoas. Não sei exatamente como, porque é uma tarefa difícil.
CientíficaMente - E com relação à carreira do psicólogo, hoje em dia há mais possibilidades além da clínica?
A psicologia tem as áreas mais tradicionais, instituídas, em que algumas já não mais tão seguras. Por exemplo, o consultório antigamente era a opção óbvia – você se formava, abria seu consultório e pronto. Hoje em dia você até pode abrir seu consultório, tentar uma estabilidade, porém há mais pessoas fazendo isso e não está tão simples assim você manter essa atividade. Você pode trabalhar em escolas, que abriram mais espaço para nós, e as empresas, que sempre tiveram vagas e provavelmente sempre terão. Essas áreas já são instituídas, mas hoje se abriram mais possibilidades. Áreas em que nem se pensava que o psicólogo poderia contribuir, como na política, na gestão, em instituições, em comunidades, no trânsito, com engenheiros, enfim tudo que envolva impactos no comportamento humano cabe também ao psicólogo. O problema é que, por exemplo, pensando em alguém que está em formação, você acaba tendo contato com as áreas mais tradicionais, e tem outras áreas que você vai constituindo seu espaço. Isso é algo bom, porque agora você pode chegar e dizer que tem um conhecimento, que pode contribuir. Você pode construir um espaço, apesar de que leva um tempo para isso ocorrer. O risco é as pessoas não te reconhecerem como psicólogo, dão outro nome, fica como outra coisa. Estamos nessa abertura de novos campos de trabalho, mas que ainda não estão consolidados como tal. Alguns já estão, como a psicologia jurídica, a psicologia do esporte, a psicologia hospitalar, que há dez, quinze anos ninguém saberia dizer o que eram. Também podemos aproveitar áreas que estão consolidadas em outros países. Hoje há mais abertura, por outro lado isso deixa as pessoas sem referências, mais confusas com relação ao que o psicólogo é e faz.
CientíficaMente - E o que você acha que diferencia o psicólogo dos demais profissionais que lidam com humanos?
Eu acho que é o olhar. Nós desenvolvemos um olhar que é muito específico. O curso - teoricamente, não que todos tenham isso - te dá uma chave de leitura da realidade muito particular (chamo de realidade as pessoas, as instituições, as organizações, dimensões da vida). Isso nos ajuda a entender para além da superfície. Acho que a maioria das profissões não vai para além da superfície, até porque não se propõem a isso. As nossas grandes ferramentas são o diagnóstico, em um sentido mais amplo, pensado em termos de leituras, interpretação, análise da realidade, e a forma como se acessa essa realidade. A entrevista, por exemplo, é um instrumento fantástico que nós temos, e nós extraímos coisas dessa entrevista que outros profissionais não extraem. É uma leitura muito particular da realidade, que consegue entender um pouco as pessoas, as relações das pessoas, e ajudar no que estabelece o cotidiano de todas as outras profissões.
CientíficaMente - Você acha que as faculdades, os cursos de psicologia em geral, conseguem mostrar esse campo aberto de atuação do psicólogo?
Olha, mais ou menos. O campo tradicional é apresentado. Não dá para dizer genericamente, acho que algumas faculdades têm isso, essa preocupação, outras não têm. Algumas fazem isso de um modo mais integrado, dentro do currículo, outras não, fazem palestras, por exemplo. As faculdades estão preocupadas, mas varia o nível de preocupação e ação para dar conta disso. Até porque tem muita coisa nova, e muitas áreas ainda não estão consolidadas, umas são legais, outras não. Às vezes você traz para dentro do curso de psicologia alguém que mistura psicologia e coisas esotéricas, o que é um problema. A formação em psicologia é algo complicado. Você fecha a grade curricular e aí surge uma nova área.
CientíficaMente - E o que você acha que os alunos podem fazer para entrar mais em contato com as possibilidades de carreira?
Eu acho que tem que conversar muito com os professores, e também com os colegas. Às vezes o colega que senta a seu lado está fazendo um estágio muito legal, em algo que você nem imaginava. Principalmente conversar com os professores, porque às vezes ele dá uma aula que tem que dar, mas a experiência dele é outra. Uma coisa que não se faz, eu como aluno não fazia e não vejo meus alunos fazendo, é conhecer um pouco o professor. Ver o que ele faz, o que ele pesquisa, o que ele estuda, onde ele trabalhou, o que já fez... Saber a história de vida dele é interessante, até porque ele pode te dar dicas de por onde ir, como caminhar. É importante conversar com vários, não com um só. Hoje em dia temos a Internet, mas nem sempre você sabe se a informação é válida. É legal ter alguém como uma referência, que te ajude nesse caminho. Eu ainda acho que a graduação é um espaço de exploração e de experimentação. Esse é o objetivo. Quanto mais se explorar e se utilizar do material físico e humano da universidade, melhor. Não que isso vá garantir que quando você se forme terá uma inserção perfeita no mercado de trabalho. No entanto, quanto mais informação, mais fácil você consegue. Claro que há também outros fatores, como características pessoais, contingências do momento, da área que você escolheu. Tem áreas que a inserção é fácil, e em outras você terá que inventar e batalhar para abrir seu espaço.
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